Roda de Encontro e Roda de Reflexão

Cotidiano Extraordinário

A roda é um lugar de encontro. Sua circularidade possibilita à criança ver e ouvir o outro, viabilizando a comunicação e o diálogo e sustentando-se na discussão, na deliberação e no direito. Nesse contexto, a alteridade e a pluralidade de opiniões e de pontos de vista corroboram a construção da identidade do grupo, tornando possível a elaboração do senso de pertencimento a uma comunidade.

As rodas são exercícios da construção da convivência democrática entre suas personagens – crianças e adultos - e acontecem no movimento dos direitos básicos de cada sujeito: o direito à voz, à escuta, à existência.

As crianças comunicam e escutam, por meio de suas múltiplas linguagens, suas percepções, compreensões e indagações sobre o mundo e a forma como estão nele. Essa escuta da qual falamos abrange todos os sentidos - os envolvidos “escutam” as ações, os olhares, as reações, as teorias e os questionamentos, buscando compreender e indagar os outros e a si mesmos.

Na roda de encontro acontece o “quantos somos?”, um ritual cotidiano que possibilita identificar quem são e qual o número de pessoas que estão presentes no grupo para a organização dos próximos momentos do dia, como quantas crianças participarão das refeições.

A roda convida à participação efetiva das crianças no cotidiano por meio de escolhas espontâneas em negociação com o coletivo, de forma que todos possam contribuir com a sua organização e compartilhar responsabilidades.

As crianças reconhecem a si e aos outros em uma complexidade de sentidos. As imagens e objetos, carregados de memória, abrem caminhos para que as crianças revisitem sua trajetória e possam narrá-la, compartilhando com as outras pessoas aquilo que lhes é importante: suas famílias, acontecimentos e lembranças. Criam oportunidade para que a criança se relacione com a própria história e reconheça os muitos “eus” do ser: quem era essa pessoa na foto? O que mudou? Quem sou eu agora? Será que aquele “eu” ainda cabe em mim? Por meio destas indagações se estabelece a relação entre a casa e a escola: o que se traz de casa, o que se leva da escola e vice-versa.

Nesses encontros de narrativas, a roda é terreno fértil para a contação de histórias. A leitura do livro ou a narração de uma história convida a uma organização para a conexão com a narrativa: onde se posicionar na roda para ter acesso tanto à história quanto à imaginação? Como e quando apreciar o livro individualmente ou de forma com- partilhada?

Uma multiplicidade de experiências sociais é vivenciada em relação à linguagem, representada pela variação da entonação de voz, pela leitura das expressões corporais e pelo conhecimento social do livro (posição, manipulação, cuidados).

A organização circular também favorece os momentos de reflexão e compartilhamento de ideias nas assembleias que, solicitadas por crianças ou educadores, trazem, para o plano de decisões, assuntos ou situações que estão necessitando de maior investimento e atenção do grupo. Cada criança se inscreve e tem um tempo para sua fala, que não pode ser interrompida. Ao final da exposição das ideias, o grupo decide os encaminhamentos que guiarão as ações em situações semelhantes no futuro.

As crianças finalizam o período nas rodas de reflexão, em que compartilham os aprendizados e experiências vivi- dos. Enquanto narram e mostram, as crianças estão processando e sintetizando ideias, teorias, conceitos. A partir dessas reflexões conjuntas entre crianças e adultos, é construída a agenda semanal, uma síntese do que lhes foi mais significativo. No fundamental, os representantes da semana são os escribas do grupo e anotam no caderno de roda as informações que todos julgam mais importantes e inesquecíveis.

De um percurso planejado e prefigurado pelas crianças junto aos educadores, as etapas da materialização de uma ideia se potencializam nas possibilidades de divergências e/ou convergências de pensamentos. Ao compartilhar as produções com os colegas e outros personagens da escola, as crianças disparam novas indagações, que sustentam o pensamento projetual.

Ao contar aos colegas sobre suas ideias e como as materializou, a criança organiza uma estrutura narrativa nas semânticas de tempo, espaço e relações que sustenta seus pensamentos e os processos do fazer, ampliando novas aprendizagens para todo o grupo.

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